DEBATE TÉCNICO SOBRE LIGHT STEEL FRAMING.

Veja o que dizem os 10 principais nomes do seguimento de light steel framing no Brasil.

Mesa-redonda

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Marcelo Micali Ros, gerente nacional de vendas do Gyp Group

 

 

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Suellen Bongatti, coordenadora da Construtora Módulo Sequência

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Julian Mauricio Hunecke, gerente de mercado e produto da Brasilit Saint-Gobain

 

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Newton Bandini, sócio-diretor da Jorsil

 

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Danilo Andrade, gerente de engenharia da Odebrecht Infraestrutura

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Silvia Scalzo, membro da  CBCA e especialista em desenvolvimento de mercado da  ArcelorMittal

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Alexandre Santiago, gestor técnico da Construseco

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Daniel Simioni, instrutor técnico da Âncora

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Fabio Faedrich, coordenador da Construtora Módulo Sequência

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Valéria Eiras, arquiteta da Knauf

 

 

Quais foram as principais evoluções técnicas do sistema ao longo dos últimos anos?

SILVIA SCALZO – Hoje, há mais pessoas que conhecem o sistema e mais fornecedores no mercado. O sistema tem todos os seus componentes fabricados no Brasil ou comercializados por empresas nacionais. Essa disponibilidade de componentes e de literatura, além de formação da mão de obra para trabalhar, aumentou a difusão da tecnologia. Houve grande aceitação do engradamento metálico para cobertura de casas. Hoje os perfis galvanizados, os mesmos de Steel Framing, são muito usados em substituição à madeira. Grandes obras, como shopping centers, fachadas de shoppings e de galpões industriais também já contam com o sistema. Se houve uma resistência ao seu uso no segmento de habitação popular, o sistema, por sua vez, conseguiu romper essas resistências nesses nichos citados. Mais do que inovação, houve uma difusão tecnológica muito grande.

ALEXANDRE SANTIAGO – A difusão da tecnologia é fundamental para que o mercado aceite o sistema. À medida que ele é disseminado, os seus diferenciais começam a aparecer. No Steel Framing, o custo total da obra é compensatório, pois ele oferece qualidade ambiental, velocidade e facilidade de gestão da obra. Mais gente conhece e acredita no sistema hoje. Por isso, o Steel Framing cresce mais do que o próprio mercado da construção civil.

DANIEL SIMINONI – O mercado tem demandado uma construção mais ágil, contribuindo para a expansão do Steel Framing. Como fornecedores de insumos, percebemos um crescimento de demanda muito grande.

JULIAN MAURICIO HUNECKE – Nesse período de desenvolvimento técnico, ficou comprovado que o sistema de fato funciona. Conseguimos o DATec recentemente pelo Ministério das Cidades.

E com relação aos subsistemas e componentes que integram o Light Steel Framing, qual é o panorama atual?

MARCELO MICALIROS – O desenvolvimento do setor gera massa crítica e desmistificação do sistema. Houve uma evolução técnica da cadeia. Os materiais, como placas cimentícias e parafusos, por exemplo, evoluíram muito. Hoje já é possível encontrar os subsistemas e componentes em casas de materiais de construção a seco. O mercado está bem servido e com materiais de qualidade.

NEWTON BANDINI – O principal desafio agora é o cálculo. Alguns profissionais já se arriscam a fazer construções simples, mas projetos mais complexos exigem calculistas especializados, o que ainda é uma dificuldade.

SILVIA – O dimensionamento do Steel Framing se baseia na norma 14.762 (Dimensionamento de Perfis Formados a Frio), uma norma já consolidada. Sem dúvida, o sistema exige um projetista estrutural, mas a dificuldade de cálculo no Steel Framing é um mito, pois há normas que norteiam essa etapa.

DANILO ANDRADE – Do ponto de vista técnico, ainda enxergo o Brasil como grande importador de tecnologias de outros países. A própria norma brasileira é inspirada em textos norte-americanos. Do ponto de vista de materiais, ainda faltam produtos de construção nacionais adaptados ao sistema. Por uma questão cultural, ainda precisamos assentar mármores, granitos e cerâmicas, materiais que imprimem menos velocidade e praticidade nessas etapas. No exterior, os materiais complementares a esse sistema são mais industrializados. Há, por exemplo, bancadas de inox e materiais mais leves e práticos de assentar.

Esse é um gargalo a ser resolvido para que haja avanços?

SILVIA – Acredito que o Steel Framing é um sistema industrializado aberto, ou seja, aceita uma grande variedade de materiais que podem integrar-se a ele. Combinado a outros sistemas industrializados, os ganhos são ainda maiores. Quanto aos acabamentos, o Steel Framing confere bom prumo, facilitando essa etapa e diminuindo a quantidade de argamassas colantes.

MICALIROS – Vale lembrar que o Steel Framing está contribuindo para a evolução dos sistemas convencionais. Hoje, por exemplo, temos fachadas estruturadas em Steel Framing, que substituem os fechamentos em tijolo e blocos. Os banheiros prontos também estão sendo estruturados em Steel Framing. Esses usos estão avançando no mercado nacional.

A falta de projetistas pode emperrar a expansão do Steel Framing no mercado brasileiro de construção?

FABIO FAEDRICH – Ficamos reféns de poucos projetistas, que detêm muita experiência. Os projetistas em geral conseguem fazer projetos, mas o problema é a qualidade, pois muitos não têm grande experiência com o sistema. Na obra, no entanto, os problemas começam a aparecer. Há compatibilizações de projeto que esses projetistas não conseguem acertar. Detalhes milimétricos que não são observados e que se acumulam no tamanho do projeto, demandando, inclusive, alterações na estrutura dos telhados. Comparando os projetos norte-americanos aos brasileiros, o nível de detalhamento dos primeiros é muito superior.

SANTIAGO – Não há um volume grande de projetistas e calculistas especializados no sistema, mas há um crescimento desses profissionais, em virtude da sua maior difusão. Dentro dos projetos que desenvolvemos, percebemos uma evolução grande no nível do detalhamento e do conhecimento das interfaces. O sistema precisa de projeto, do contrário, não funciona. Precisamos vencer a barreira da cultura da falta de projeto no Brasil. Vale lembrar que temos o desenvolvimento de normas de cálculos, que podem basear essas etapas.

MICALIROS – Temos a cultura de resolver tudo no campo, o famoso “conserto na massa”. O Steel Framing não aceita isso. O projeto tem de ser extremamente detalhado para que a obra seja apenas uma montagem.

SILVIA – A construção industrializada exige que os projetos sejam detalhados a fundo, pois os ganhos de produtividade e qualidade de desempenho só vão ocorrer se o projeto antecipar os problemas futuros.

VALÉRIA EIRAS – A indústria oferece apoio para os arquitetos e projetistas, desde o começo até o final da obra. Ajudamos esses profissionais a dimensionar corretamente o sistema. Há um acompanhamento próximo para que os projetos sejam benfeitos. Outro ponto importante é que todos os ensaios são feitos no Brasil, o que confere maior credibilidade à tecnologia.

Como está dividida a participação do sistema nos segmentos residencial, comercial e industrial?

ANDRADE – Na Odebrecht, a única obra 100% executada em Steel Framing são as 32 creches que estão sendo construídas em Belo Horizonte. Já usamos o sistema em fachadas e em estações de metrô e estamos desenvolvendo estudos para utilizá-lo em habitações populares. O ideal é ter escala, pois os custos diretos da tecnologia ainda são maiores que os da construção convencional. A conta fecha a partir do momento em que há repetição de uso, com a reprodução em grande escala do mesmo prédio e redução de custos diretos. Já estamos pensando em utilizá-lo para atender ao programa Minha Casa Minha Vida.

SILVIA – Cabe ressaltar que os custos devem ser vistos de modo global e sistêmico. É preciso computar quanto custa ter uma obra com menos gente trabalhando, consumindo menos refeição, EPIs – e por menos tempo também. É preciso analisar quanto custa tirar o trabalhador do canteiro de obra, reduzindo os custos de acidentes de trabalho, por exemplo. São ganhos econômicos e sociais. Essa discussão deve ser ampliada.

HUNECKE – Já estamos com esse sistema aprovado pela Caixa Econômica Federal e pelo governo para uso no segmento de baixa renda. Há uma grande procura por parte das construtoras, mas a consulta é muito rasa, sempre esbarra no custo por metro quadrado. A visão é direta e imediata, dificultando a exposição das vantagens.

SUELLEN BONGATTI – Hoje, 70% das obras que executamos são para o segmento industrial. Para esse cliente, o grande atrativo é o prazo de execução. No segmento residencial, atendemos ao mercado de alto padrão, em que o cliente já conhece o Steel Framing de outros países, onde seu uso é difundido. Fizemos dois projetos do Programa Vila Dignidade [do Governo do Estado de São Paulo] no segmento de obra pública, já licitada com o sistema.

SANTIAGO – Em Minas Gerais, o governo licitou Unidades Básicas de Saúde (UBS) em Steel Framing, em virtude das vantagens da tecnologia. São mais de 100 unidades, algumas já executadas, outras em execução. Na nossa empresa, começamos atendendo ao segmento residencial, mas depois migramos quase 100% para o segmento comercial. Nesse nicho, os clientes conseguem fazer a conta global do sistema e pesar suas vantagens. Percebemos que o nicho residencial voltou a crescer também, motivado por pessoas que estão acompanhando a execução de outras obras em Steel Framing, aqui dentro do próprio País.

O modelo mais viável para o uso de Light Steel Framing para habitação popular é via contratação pública?

SANTIAGO – Acredito que a demanda do poder público é importante para alavancar o uso do Steel Framing nesse nicho. Esse modelo pode criar referências bem-sucedidas envolvendo o sistema.

FAEDRICH – Mas vale lembrar que o fator custo nesse segmento é muito importante, pois o valor das unidades é muito baixo.

Há espaço para redução de custos, permitindo uma maior penetração no nicho de baixa renda?

SILVIA – Sim, com o uso em escala. A compra de componentes em grande escala permitirá custos mais baixos. A industrialização funciona a partir de grandes escalas.

ANDRADE – O Steel Framing, no mercado de varejo, está distante de chegar a uma composição de custos menores. A redução dos custos está muito voltada para padronização, mas também envolve a geração de ciclos de obras e a rotatividade das equipes dentro das diversas etapas executivas. Assim, as equipes podem “girar” pelas obras.

FAEDRICH – A redução de custos dos materiais para uso em obras menores também é importante. Isso permitiria a execução de uma única residência unifamiliar, por exemplo. Há uma série de materiais de acabamento para drywall e Steel Framing, mas o custo deles ainda é muito mais alto do que o de materiais convencionais.

VALÉRIA – Vale lembrar que o sistema atende muito bem à Norma de Desempenho nos quesitos acústicos e mecânicos, vantagens que estão sendo levadas em conta pelos clientes e construtoras na hora de optar por ele.

Ainda não há uma nova norma específica para Steel Framing. Que impacto isso traz para o setor?

SANTIAGO – Não há uma norma de procedimento executivo, mas temos uma série de normas relativas aos subsistemas. Há cadernos de boas práticas editados pelo Centro Brasileiro da Construção em Aço (CBCA), além da diretriz do Sistema Nacional de Aprovações Técnicas (Sinat) e dos Documentos de Avaliação Técnica (DATecs) conferidos a algumas empresas. Todos esses documentos oferecem uma base de apoio para o mercado especificar e executar o sistema. O setor está trabalhando para tornar a norma uma realidade.

ANDRADE – Acho que o Steel Framing já tem uma normatização, que é a junção das diversas normas já existentes no mercado que cobrem os sistemas. Não enxergo a necessidade de construir uma nova norma para o Steel Framing.

MICALIROS – Na verdade, a norma deve chegar como um documento que irá organizar o setor.

As indústrias siderúrgicas e de perfis estão capacitadas para atender a um eventual aumento de demanda que pode acontecer com a esperada massificação do Steel Framing?

SILVIA – Sim, a indústria siderúrgica está capacitada para atender a esse mercado. Temos três grandes players que têm condições de fornecer aço para o sistema.

MICALIROS – Conseguimos encontrar no mercado todos os tipos de aço que atendem a todos os projetos possíveis. Há espessuras, resistências e revestimentos variáveis. Trabalhamos com revestimentos zincados, para situações menos agressivas, e também com revestimentos mais robustos, para situações opostas.

FAEDRICH – Em caso de boom do setor, dependeremos também da demanda de outros setores que usam aço como matéria-prima. Entre 2009 e 2010, enfrentamos dificuldades com o produto.

Como é a relação das construtoras com os fornecedores e quais são as principais dificuldades para especificação correta dos componentes do Steel Framing?

SIMIONI – No segmento de fixação e ancoragem, a especificação ainda é bem defasada. Recebemos consultoria de grandes empresas que ainda desconhecem como fazer a especificação correta. Em alguns projetos, as especificações variam radicalmente. A evolução do setor está sendo gradual e investiremos na parte técnica e em consultoria, até que o mercado assimile totalmente o sistema.

MICALIROS – A especificação é dinâmica. Cada vez mais chegam novos produtos no mercado e os produtores estão se esforçando para orientar os profissionais. A evolução é constante, exigindo atualização permanente.

E quanto à qualidade da mão de obra, qual é o cenário atualmente?

MICALI ROS – O drywall favoreceu a qualificação dos carpinteiros metálicos. O trabalho feito por essas empresas está sendo aproveitado pelo segmento de Steel Framing. Hoje, temos um cenário mais favorável do que quando o drywall entrou no mercado.

FAEDRICH – A qualificação desse profissional é maior do que a do sistema convencional. A formação deles também é muito mais rápida.

SANTIAGO – Vejo a qualificação do profissional como um retorno social da construção industrializada. É preciso uma qualificação mínima para ler projeto e lidar com ferramentas mais elaboradas. Além disso, tiramos o profissional da obra para colocá-lo em um ambiente de indústria. A escassez de mão de obra é uma oportunidade na construção industrializada, pois a mão de obra é mais intensiva e qualificada, dispensando grande contingente de pessoas.

Quais são os sistemas que podem ser associado ao Steel Framing para aumentar sua produtividade?

BANDINI – O kit porta pronta, por exemplo, é um sistema que contribui para aumentar a produtividade do Steel Framing. Há cinco anos, o uso desses kits não era nem cogitado pelas empresas. Hoje, eles estão inseridos na realidade da obra.

SILVIA – As telhas em aço do tipo sanduíche são leves e conversam muito bem com o sistema. Já temos painéis chegando prontos e revestidos na obra.

 

Reportagem: Gisele C. Cichinelli
Fotos: Divulgação Odebrecht

Fonte: CBCA – Notícia – Revista Construção Mercado – Novembro de 2014

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